Mas, hoje ela não dormia, nem olhava ao longe, nem
arrumava suas coisas, nem costurava seu velho cobertor.
Hoje, uma tarde gelada e chuvosa, na saída do Elevado que
dá para o Largo do Arouche, sem calçada ou cobertura, com os pés expostos na
via pública, vestindo uma camiseta regata, com seus grossos braços grandes e
negros de fora, ela segurava uma caneta, e escrevia...
Alheia à chuva que molhava o papel, alheia ao frio e aos carros
que, como o meu, poderiam passar por sobre suas pernas, ela simplesmente,
escrevia...
Alheia à miséria, ao descaso, ao abandono. Alheia à falta
de sol, de abraço, de afeto, de comida. Alheia à falta de dinheiro, de roupa,
de amparo. Alheia à falta de ar... ela produzia uma abundância de palavras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário