Admirável
e estranho mundo novo. Duas mortes perto de mim na mesma semana. Ambas me
chegaram pelo Facebook. “Dor sem fim”, dizia uma amiga que perdera a pequena
filhinha ainda no ventre. “Um anjo subiu ao céu”, dizia outra amiga, sobre um
amigo comum, ex-colega de trabalho, que partiu subitamente aos 23 anos de
idade.
Nem
telefonemas, nem visitas, nem velórios. Difícil compreender a morte, ainda mais
quando ela não se materializa na nossa frente. Ainda mais quando é de duas
crianças, uma que nem nasceu, e outra que tão pouco viveu.
De um,
guardo recordações alegres, pessoa bem-humorada, chegava sempre sorrindo na
redação e tinha uma piada e brincadeira pra tudo. Quietinho no início, foi
ganhando espaço no trabalho e no coração de todos. Meu colega na ginástica
laboral (ainda me perguntou quem iria cobrar que ele fizesse o chato exercício
quando saí da empresa), e das pautas sobre celebridades, sempre com um
comentário ácido e divertido.
Da
pequenina, só sabia que era muito esperada e amada por seus pais, sua irmã,
seus avós, parentes e amigos. Não pude ligar para sua mãe, não encontrei
palavras, meu coração ficou calado, pois por quatro vezes senti o que ela sente
agora. E, por quatro vezes, não soube, não assimilei, não registrei o que me
disseram, o que ouvi, nem o tamanho da dor do meu coração. Por quatro vezes, na
verdade, não queria ouvir nada. Muito menos dizer. Não havia palavra.
Ainda
ficou um abraço, que quero muito lhe dar. Que está guardado no meu peito para
quando pudermos nos ver. Não quero ir agora, porque sei que estará rodeada de
pessoas, e que muitas vezes, só desejará o silêncio.
Não pude
me despedir do meu jovem amigo, levado para perto da família numa cidade muito
distante. Mas, pude vê-lo muito vivo nas fotos com os amigos, bonito, sorrindo
numa mesa de bar. E também pude ver as inúmeras declarações de amor e amizade,
e o pesar dos muitos amigos saudosos.
Em tempos
de redes sociais, até a morte é virtual. Aliás, ela sempre foi, assim como
a vida que achamos que temos nas mãos, mas nos escapa após um leve suspiro, que
nos devolve para a nossa verdadeira existência. E essa, de onde estamos
agora, não conseguimos enxergar.
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