A visita inesperada a uma mulher próxima da morte é o pano de fundo de A Senhora de Dubuque.
No espetáculo, o dramaturgo americano Edward Albbe tece várias conjecturas a respeito da finitude da vida e da busca da própria identidade.
A chegada de Elizabeth, a Senhora de Dubuque, brilhantemente interpretada por Karin Rodrigues, causa estranhamento, e ao mesmo tempo, fascínio a todos, porque ela se diz mãe de Jo (Alessandra Negrini), uma jovem que sofre de uma doença grave e está prestes a morrer.
A descrição que Jo e Sam (Joaquim Lopes), seu marido, passaram aos amigos sobre a mãe da moça, reclusa e distante, não condiz com a mulher forte e elegante que chega à residência do casal.
E cabe a Sam a difícil tarefa de lutar e resistir àquela presença tão indesejável que, ele já deve prever, lhe trará consequências devastadoras.
Mas, a identidade da mulher misteriosa não é a única que está em jogo na peça. No início, Sam brinca com os amigos com um jogo de adivinhações que abre a trama com a pergunta: "quem sou eu?".
Essa indagação, talvez até mais do que a discussão sobre a morte, permeia todo o espetáculo.
Quem são aquelas pessoas, qual o sentido de suas existências? Por que estão ali tendo que conviver já que não se suportam?
Como é recorrente nos textos do dramaturgo americano abordar os dois mais importantes episódios da nossa existência: o nascimento, do qual não nos recordamos, e a morte, a qual não podemos prever, a peça une perfeitamente as duas pontas da vida, ao colocar a suposta mãe, que teoricamente teria dado a vida, no momento crucial da morte.
E sua tão ambígua e estranha presença que fascina os amigos, revolta o marido e acalanta e traz paz à moribunda pode ser uma incômoda metáfora do futuro que a todos nós aguarda.
Intrigante e perturbadora, a peça provoca um mal estar e um forte questionamento. Por isso, é imprescindível ser apreciada.
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